segunda-feira, 14 de setembro de 2009

os objetos na memoria dos sentidos.

Esta é minha primeira contribuição para este blog que eu já admiro a bastante tempo. Obrigado pelo convite Anahi. Espero que vocês gostem.

Este post não tem fotos, pois imagens visuais reduziriam muito estas cenas da nossa memória que são repletas de cheiros, sons, texturas, gostos…

Os objetos na memória dos sentidos.

Cheiro de borracha de bexiga que lembra festa de aniversário com fiapos de papel crepom de bala emaranhados, que lembram fiapos de folha de caderno espalhados, junto a sobras de borracha na carteira que, borrada de grafite, lembra as paredes xingadas nos banheiros que lembram o cheiro de fim de festa de rua, com barulho já baixinho de bloco ao longe, que lembra barulhinho de riacho com pedra, mato e cheiro de terra molhada, que me lembra a pele úmida e enrugada como a da minha nona, que lembra o cheiro de avelã verde e vinho em tonel, que lembra adega escura, tão escura quanto o quarto da minha vó, que lembra o som de cuco e o toque de novelo e a novela lá no fundo, na tela que, quando ia tão perto com meu braço, punha meu pelo em pé, como se faz quando se beija pela segunda vez, que lembra da primeira, com o rosto avermelhado, que lembra colchão a secar no varal e a roupa quente e com atrito, que faz recordar da lã a pinicar em cima da gola da camisa, comprada na venda de cidadezinha como aquela da canela no curau ou do curado do queijo branquinho meio folgado sob o plástico molhado que lembra a bóia de braço ao ser posta com força, lembrando o cabelo molhado e esticado da maria-chiquinha ao ser feita, que lembra o banho com o som das gotas quentes sobre o plástico da cortina que encostam já frias na canela, enquanto a toalha com capuz espera pra secar, fazendo lembrar do enxaguar do barbeiro antes de tesourar em movimentos ligeiros com som que lembra morcego em forro de casa velha, daquelas que tem madeira que range no piso e assento de couro escuro que arranha no rasgo ao sentar e, a pele quente sua, quando encosta, como banco de fusca, que lembra a vizinha das caronas à natação, que lembra o cheiro do vapor com cloro e a ponta da orelha, hora fora e hora dentro da touca, que lembra óculos apertado, emprestado em urgência de dia claro com luminosidade que dói atrás do olho, como algumas febres, que lembram o gosto de alguns xaropes que nos fazem odiar o vidro ambar, mas também lembram os chás que entram quentes provocando uma dorzinha gostosa na garganta inflamada, que lembra a dorzinha gostosa do gás da coca tomada em excesso num acesso de calor, que lembra o sol e o mar e a pele irritada junto ao isopor da prancha dos jacarés de antes dos jacarés de de fim de férias com camiseta molhada e rosto descascado que junto ao lençol incomoda o sono, que lembra a cama macia, a coberta quente… o corpo deitado… a luz pouca ao fundo… o pé sem peso… o cafuné… o silêncio… e os diversos sabores dos sonhos…

abs,
BARÃO

Um comentário:

Marco disse...

como é bom lembrar...e compartilhar lembranças! Lindo texto. abraços!!